“Que não haja dia em que não ponhamos a mão em alguma tarefa que nós mesmos escolhemos e que constituirá a própria obra da nossa vida”.
Louis Lavelle não pretendia publicar um livro chamado Regras da vida cotidiana. Foi para si mesmo que o autor redigiu os preceitos e conselhos contidos neste texto, encontrado entre seus papéis pessoais depois de sua morte.
Como nos antigos livros de sentenças ou nos manuais de vida cristã, as regras de Lavelle são breves e sintéticas, de modo a pôr um foco de luz muito estreito e muito forte sobre nossos sofrimentos e atos interiores mais sutis, e assim iluminar toda a nossa alma. Elas inspiram, como diz Vieillard-Baron, a prática de uma “espiritualidade filosófica”, isto é, suscitam um “esforço sobre si mesmo que provoca reflexão, uma reflexão racional que eleva a alma e a põe em face da beleza e da bondade superiores”, que “transforma a personalidade e a eleva moralmente”.
Elas encerram todos os temas importantes que o filósofo tratou em suas obras, o que revela como a filosofia de Louis Lavelle não é mera construção mental abstrata, mas um modo de viver fundamentado na atividade do espírito — em suma, uma vocação espiritual. E, como diz ele próprio, “as regras para a direção do pensamento são regras para a direção da vida: só têm interesse na medida em que a própria vida deve ser regrada pelo pensamento”.